segunda-feira, 26 de dezembro de 2011


“Os rasos que me perdoem, mas conteúdo é fundamental”


Não quero aqui tratar da afirmação trivial de que: a beleza interior deve prevalecer sobre a exterior. Isso todo mundo sabe e há também os que fingem saber. Cabe a nós, então, refletir sobre até que ponto beleza e conteúdo se dissociam, ou não.
 É claro que a embalagem é o cartão de visitas, mas o cartão de permanência caracteriza-se por quão a pessoa se mostra espirituosa, auto-confiante e inteligente. Mas, mesmo assim, a necessidade que temos de que o outro nos enxergue da melhor forma que podemos nos apresentar, esteticamente falando, mostra, mesmo que inconscientemente, o quanto nos sentimos vazios por dentro, com certo espaço a preencher, num lugarzinho bem particular, chamado EGO. O fato é que quem dispõe de muito em seu interior precisa de pouco por fora, ou seja, quem se preocupa demasiadamente em evidenciar sua beleza exterior, já deixa claro que não possui um mérito maior. 
O mundo atual tendencia ser cada vez mais narcisista, assim, atribuindo um valor exacerbado á própria figura o amor-próprio se transforma no “amor-impróprio”. Não é à toa que o Brasil é campeão em cirurgias plásticas na busca do corpo perfeito, uma vez que a falta de amor por si mesmo tende a aprisionar no desejo de ser igual ao outro, subjetivando-se e alienando-se nele.
Não raramente encontramos pessoas que, apesar de não se apresentarem dentro dos padrões exigidos para serem considerados belos, mostram um entusiasmo pela vida, uma inteligência intelectual, uma segurança em relação à sua aparência e uma auto-estima invejada por muitos(as) modelos. E exatamente por isso, essas pessoas se tornam bonitas à nossa ótica. 

A prova de que a verdadeira beleza deve habitar dentro de cada um(a) é o fato de que as coisas serão belas para nós apenas quando nosso espírito estiver apto a contemplá-las.
O importante é saber que à medida que cuidamos da nossa casca, efêmera carcaça, devemos zelar também pela beleza eterna, aquela que vai permanecer fazendo com que se apaixonem por nós mesmo na presença de cabelos brancos, que nos confiram o encantamento mesmo quando a quantidade de colágeno for escassa. A beleza que os nossos olhos não conseguem enxergar.

Ser belo não é sinônimo de falta de inteligência, mas beleza não garante conteúdo. Algumas vezes fico imaginando como seríamos se o tempo que gastamos cuidando de nossa aparência externa fosse empregado no aprimoramento interno de nossas capacidades, virtudes e intelecto.  
Não obstante, evidenciamos que a imagem de pessoas com um copo na mão em uma balada é muito mais atrativa que lendo um livro, um jornal. É como se, aos nossos olhos, esta última imagem fosse em preto e branco, ao passo que a primeira fosse colorida, mais convidativa para ser reproduzida em nossas vidas. Isto, de fato, caracteriza o desejo da maior parte da mídia, dos políticos, enfim, da elite, que prefere que sejamos rasos, passivos no que diz respeito à escolhas, à crítica, mas ativos em relação ao consumo exagerado para nos tornar Barbies e Brad Pitt’s nessa nossa mundial “fase do espelho”.
São por essas e outras verdades que peço espaço para o grande Vinícius de Moraes para dizer:
“Os rasos que me desculpem, mas conteúdo e fundamental.”

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